Estamos acostumados a pensar na transparência como exigência da política, do controle social e da luta contra a corrupção financeira e administrativa, o que é certamente justo e salutar. No entanto, há outros desdobramentos de uma transparência rasa na vida das pessoas que levam por vezes a comportamentos conformistas de uma positividade tóxica que evitam a singularidade e a alteridade banindo a discordância e a discussão. Por outro lado se percebem hábitos massificantes de uma geração selfie que empenha-se em retratar e registrar tudo que fazem tornando sua vida uma performance ou um reality show. Tudo se torna espetáculo e a autoestima das pessoas torna-se dependente de curtidas nas redes sociais, ou dos pedidos de amizade nos sites pessoais. Troca-se a interioridade pela intimidade epidérmica, e a existência se converte em visibilidade e aparência. Ameaça-se desta feita não só a privacidade e o foro interno das pessoas mas a sua saúde e equilíbrio mental, produzindo seres infantis e profundamente imaturos.
O pior de tudo isto é que muitas vezes ministros religiosos e agentes de pastoral, acreditam que o púlpito deva ser palco, a liturgia tornar-se mais atraente buscando efeitos especiais e brilhos fátuos e vazios, esquecendo o mistério e a transcendência do divino. A massa de informações e imagens que somos obrigados a devorar diariamente nos afastam tanto da verdade das coisas como da sabedoria do Evangelho, esquecendo quem somos e para onde vamos. Entendemos como inteligente e sumamente correta a medida de controlar nas escolas o uso de celulares e tablets, é urgente desconectar-se e parar para refletir, retomando o autocontrole de nossas vidas, vivendo mais a partir do nosso centro interior esquecido e olvidado. Nunca foi tão necessário voltar a arte do bem viver, buscando a medida justa, focalizando no sentido das coisas que fazemos e avaliando o que nos dá felicidade.
A verdadeira transparência está não no ego mas no self, isto é no nosso núcleo mais íntimo e profundo do nosso ser, onde Santo Agostinho ensina que encontramos o próprio Deus que nos espera no mais íntimo da nossa intimidade, intimus intemeor meum. Encontrar a Deus para encontrar-se e assim nos encontrarmos com os irmãos e irmãs, em especial com os mais pobres que a sociedade consumista ignora e massacra. Que o Senhor Deus Amor nos permita amá-lo e dá-lo a conhecer com um testemunho crível de compaixão e misericórdia. Deus seja louvado!
+Dom Roberto Francisco Ferreria Paz
Bispo Diocesano de Campos
Campos dos Goytacazes, 20 de Julho de 2025.