O ano era 2004 e Campos dos Goytacazes passou por sua eleição mais intensa. Naquele ano foi a primeira disputa nas urnas entre os dois grupos políticos, oriundos de um só. Eles haviam rompido dois anos antes, durante outra campanha: a do senado em 2002.
Pelo estado, o ex-governador Anthony Garotinho, naquele momento secretário estadual do governo da esposa Rosinha Garotinho.
Em 2002, Garotinho foi o terceiro colocado nas eleições presidenciais, com bom desempenho atribuído à votação dos evangélicos em todo o país. Após deixar o comando do governo estadual para concorrer à Presidência e Rosinha disputou e foi eleita governadora do Rio. Sem ser eleito, Garotinho assumiria a Secretaria de Segurança. O casal viu seus índices de popularidade caírem no estado, ao mesmo tempo em que se acumularam denúncias de irregularidades comuns e eleitorais contra eles.
Com a força do Governo do Estado, Garotinho tentava retomar a Prefeitura de Campos, que tinha como prefeito Arnaldo Vianna e a secretária de Planejamento sua então esposa Ilsan Vianna.
Arnaldo fora vereador em Campos na legislatura 1993-1996. Aliado de Garotinho, foi seu vice-prefeito também em 1996, assumindo a Prefeitura em março de 1998, quando o prefeito renunciou para disputar (e ser eleito) o governo do estado. Dois anos depois, Arnaldo Vianna foi reeleito prefeito em 2000 com mais de 140 mil votos, sendo o mais votado da história até então.
Com a força das ruas e dos royalties de petróleo, Arnaldo montou seu próprio grupo político. O rompimento público e explícito veio em seguidas, com guerras diárias nas rádios (que naquele tempo eram o que hoje são as redes sociais) e jornais impressos. Denúncias de corrupção, insinuações, um terrorismo diário até chegarem as eleições de 2004.
De um lado, o governo do Estado – lê-se os Garotinho – apoiando Geraldo Pudim (então vice de Arnaldo, com quem estava rompido) e Claudeci das Ambulâncias.
Do outro, a Prefeitura, com os Vianna apoiando o advogado Carlos Alberto Campista e tendo como vice o vereador Toninho Vianna (que apesar do sobrenome não é parente de Arnaldo).
Mesmo com esta polarização, todas as pesquisas indicavam que o segundo turno seria com os Garotinho e a “terceira via” representada pelo então deputado federal Paulo Feijó. Era praticamente impossível imaginar o grupo de Arnaldo no segundo turno. Mas foi.
O que aconteceu naquela eleição, especialmente no 2º turno, merecia um livro ou estudos profundos sobre a política de Campos. Teve de tudo: tiros, ameaças, apreensão de milhares de reais, uso de programas sociais. Sobre os programas sociais, pouco antes da eleição, todos os promotores eleitorais que atuavam em Campos naquele momento assinaram uma ação conjunta, solicitando a suspensão deles – que tinha como carro-chefe o Cheque Cidadão. A Justiça aceitou.
Em maio do ano seguinte, os dois grupos foram cassados pela Justiça Eleitoral por abusos na eleição. Todos voltaram à cena política logo em seguida, através de liminares ou decisões de instâncias superiores. Apenas Carlos Alberto Campista não retornou.
- Este é um panorama muito geral, porque só quem viveu sabe realmente a tensão, o clima de medo e tudo mais que acontecia naquele ano.
Na verdade, a eleição de 2004 só acabou em 2008, quando, finalmente, eles retomaram a Prefeitura de Campos com a eleição de Rosinha, reeleita quatro anos depois.
20 anos, prisões, cassações, condenações e cinco eleições municipais depois, o quadro mudou? Nem tanto.
Os Garotinho e os Vianna voltaram a ser um grupo só e enfrentam outros que se formaram no decorrer dos anos ameaçando a hegemonia deles. Entre os quais, o principal grupo político de oposição é o dos Bacellar, que tem o presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar, à frente.
Engana-se que a nova guerra política campista encerra-se neste domingo, se o prefeito for reeleito em 1º turno, ou dia 27 de outubro, se a disputa for para 2º turno. Ela prossegue e ainda mais inflamada com vistas a 2026.
Seja qual for o resultado neste domingo é preciso que as pessoas realmente conheçam a história de sua cidade. E que saibam escolher em quem votar, apostando na melhor escolha para sua cidade.
Sigamos!