O ano era 2016. Por si só, por ser um ano eleitoral, já se vislumbrava que fácil não seria. Muito pelo contrário. Anos eleitorais acabam impactando, de uma forma ou de outra, até quem não exerce a política. Mas nada preparou para o que aconteceu naquele ano de eleições municipais no Brasil. Em Campos, o ritmo foi frenético, entre Chequinhos, operações e disputas judiciais. O preâmbulo foi só para contextualizar que o clima era tenso e intenso, um pouco mais do já normalizado na agridoce planície.
Alheia à política, uma família vivia seu drama particular: Um dos membros, um homem de 30 e poucos anos, saudável, adepto ao mundo fitness, casado há menos de nove meses à época, surgiu com umas manchas roxas no corpo. Poucas, mas significativas. Dias depois, veio um sangramento gengival. Imaginando estar com dengue hemorrágica, o homem procurou o local onde todo campista aprendeu a procurar quando achava estar com a doença: o CRDI Centro de Referência de Doenças Imuno-infecciosas (CRDI), antigo CRD,
Lá realizou exame de sangue e foi para casa. No mesmo dia, a equipe do CRD o chamou de volta diante do resultado. As taxas que deveriam estar em mais de 200 mil, estavam em 16 mil. Foi ventilada a internação, mas o homem não quis por não estar sentindo nada, apenas com as manchas roxas e o episódio de sangramento.
Foi orientado, então, a voltar no dia seguinte e repetir o exame. As taxas caíram para 08 mil e agora havia um cansaço acentuado. A internação foi inevitável. O homem passou por uma série de exames na tentativa deidentificar qual doença poderia causar um quadro tão grave e agudo. Dias depois, a resposta não poderia ser mais dolorosa: LMA M3 (leucemia promielocítica aguda), que faz com que exista uma proliferação das células imaturas na medula óssea.
O homem internado em Campos, depois no Inca – Instituto Nacional do Câncer. O que se passou neste período daria um livro. De amor, de união familiar, de superação dos medos.
Esse tipo de leucemia, explicam especialistas, tem chance de cura alta, em até 85%, se tratado rapidamente. Mas a sobrevida pode cair para 10% em casos hemorrágicos, que é quando fortes sangramentos podem surgir. Era o caso deste homem: As células se tornaram instáveis e quando elas morrem podem causar hemorragia. Nesse estágio, é bastante difícil conseguir tirar alguém desse quadro, como também explicam especialistas. Era exatamente este caso.
Ao conversar com um familiar, ainda durante a primeira internação, um hematologista falou sobre a expectativa de vida: “talvez uma semana”.
O tal livro de todo difícil período do tratamento da doença não poderia deixar de lado o agradecimento a Deus, à Ciência e ao SUS. Não foi sorte ele descobrir a doença e tratar tão rapidamente. Foi um trabalho sério e competente desenvolvido há mais de duas décadas em Campos. E aqui não vai nenhum desmerecimento às demais unidades de tratamento pelo SUS ou particulares, mas quando se tem um olhar diferenciado, é treinado para isso, qualquer sintoma extra chama a atenção.
Se aquele homem não tivesse um atendimento rápido num local com este tipo de olhar, com exame, resultado e internação rápidos talvez não estivesse aqui. A vida não é feita de “ses” . Ele teve tudo o que era possível e, nove anos e três governos municipais depois, está em remissão completa, tem uma filha e está aí, junto da família.
Ele é um dos inúmeros pacientes que têm história para contar relacionadas ao Centro de Referência que fechou as portas nesse sábado por decisão da Prefeitura de Campos. Histórias que carregam muito mais que um simples atendimento: história permeadas em se importar, acompanhar, entender a vida para tentar diagnosticar e chegar à cura. Como dizia uma funcionária na última sexta, “nunca foi apenas um trabalho”.
Obrigada, CRD e, principalmente, obrigada Dr. Luiz José. Palavras nunca serão suficientes para agradecer.
