Muito antes da estreia de Vale Tudo, tida como a novela de maior sucesso da TV Globo, a produção vem recebendo um bombardeio incontável de torcidas. No ar não tem sido diferente, inflamado pela briga dos protagonistas Bella Campos e Cauã Reymond.
Porém, o que mais chama a atenção é a simpatia que a personagem Odete Roitman tem recebido. Suas falas viralizam e muita (muita) gente dá razão a ela. Talvez fosse pela construção da personagem, talvez pela atriz Débora Bloch, mas, com certeza, porque os tempos são outros.
Em 1988, o Brasil vivia os primeiros anos da redemocratização após 30 anos de ditadura. O clima era sempre por liberdade, mas, principalmente por um país mais sério, mais inclusivo quando inclusão nem era, para muitos, palavra da moda. O respeito ao próximo também dava a tônica, assim como a repulsão à corrupção. Qualquer uma e não apenas a corrução praticada pelo outro. E tudo que Odete de Beatriz Segall era carregado de preconceito e esnobismo.
Por isso, oferecer um emprego em Paris dentro do contexto que foi pode significar uma ofensa ou uma maneira de corrupção. Ou vender a alma. Dizer que não nasceu para ser mãe e que se fosse pai, seria, como tantos outros, ausente, diz muito sobre ela. Ali não era uma opção de liberdade que ela não teve o direito de ter, sabe-se Deus o por quê. Ali era uma admissão de egoísmo, de falta de ligação com os filhos (e nem é surpresa de serem como são).
Esta semana, Odete mostrou exatamente como é. Em uma cena com a irmã Celina, ela fala sua preferência por Maria de Fátima para namorar seu filho Afonso. A jovem, ambiciosa e absolutamente sem escrúpulos como ela, é negra, o que é lembrado por Celina, sabendo do preconceito da irmã. Mas Odete pondera: “Todo mundo pode ter sua função, o que importa é que as pessoas façam o que eu quero’’.
E acrescenta com a frase pra lá de racista: “Ela nem é tão negra assim”.
Não apenas o momento, é preconceito na veia em pleno horário nobre. Não era certo antes, não é agora. O que mudou é que nós, como sociedade, passamos a ser condescendentes, além é claro, de as redes sociais serem um canal de desconstrução de qualquer coisa.
O vídeo viralizou, mas não na dimensão dos outros que geram tanta simpatia.
Odete Roitman não é legal. Nós que deixamos de ser.